sábado, 9 de agosto de 2008

Desarmado...



Um mago, todo de branco, espada reluzente. Um cavaleiro honrado, armadura imponente. Derrotar o dragão, salvar a princesa, destruir o anel...

Por que tais coisas sempre povoaram minha mente? Na tela do computador ou da TV.
“Gigante guerreiro Daileon!”, “Thunder, thunder, thundercats, Hooooooo!”, “Hasta la vista, baby”. Tudo isso impressionava e, por vezes, ainda impressiona.
Por que a vida deles é diferente? Mais atraente?
Talvez sejam as aventuras, o suspense, a expectativa.




"O corredor era estreito, sentia-se o cheiro de umidade, a terra batida sob os pés, o vento frio que vinha na direção contrária e tocava o rosto deixava as raras e espaçadas tochas — sinais de que havia alguém mais por ali — trêmulas. As imagens das chamas dançavam na parede uma estranha valsa. Tudo o que ele ouvia por ali era sua própria respiração. Os ouvidos apurados, os olhos cerrados e a pupila dilatada nada mais percebiam. As pedras nas paredes, coberta por musgos e liquens, seguras por vigas de madeira quase destruídas pela umidade, subiam e formavam um arco no teto, pareciam querer enclausurá-lo, sufocá-lo, mas ele seguia, pé após pé, enfrentava o silêncio e a escuridão, que nunca pareceram tão intimidadores. Enfim, chega a uma porta, rústica, velha, entreaberta, por onde soprava o vento. Aqueles poucos metros pareceram quilômetros, mas terminaram, porém, e agora, quem sabe o que se encontra atrás daquela porta?"



Sim, contribui bastante, mas ainda não é só isso, há algo mais.

Constantemente a TV nos mostra heróis da vida real. O bombeiro que salvou uma senhora, o homem que salvou um menino do buraco, o menino deficiente que venceu as olimpíadas de matemática e até os próprios heróis olímpicos. Mas por que não têm a mesma graça? Por que a fantasia parece sempre atrair mais do que a realidade?
Talvez porque lá, na fantasia, os objetivos sempre são grandiosos, sempre há uma árdua batalha a ser travada, porque eles têm ideais, porque o destino de muitas pessoas está em jogo e porque eles podem mudá-lo.


"Um leve empurrão e a porta se abre lentamente. O ranger provocado pelo abrir provoca-lhe um arrepio, como se o som entrasse pelos ouvidos, e percorresse toda a sua coluna. Uma grande sala. Vê-se um candelabro aceso, janelas abertas, cortinas velhas e rasgadas que esvoaçavam ao sabor do vento. Um chão de pedras, tal qual paredes e tetos, cadeiras quebradas, mesas velhas, teias de aranha. Um rato corre pela sala e o grunhido do animal ecoa por aquelas paredes. Faz-se silêncio novamente, apenas a respiração do herói.
De súbito, o mórbido silêncio é quebrado.
Uma voz de mulher, um grito. Mais gritos, desesperados, pede por ajuda.

É ela, definitivamente é ela! A princesa, o destino do reino em jogo, e ele tão próximo agora.
Tudo que passou para encontrá-la valeu a pena, ainda está viva!
A filha do rei, a mulher que amava em silêncio, a esperança do povo, está tão próxima e, agora, somente ele pode salvá-la. O coração dispara, a pupila dilata, a respiração torna-se ofegante. Desembainha sua espada e corre desesperadamente até a outra porta. Abre-a com força, entra correndo e..."






Bom, acho que é isso. Apesar de que no nosso mundo há, sim, ideais, não são como lá.

Talvez esteja errado, mas é que a mim, parecem tão distantes, tão inúteis, tão etéreos.
No primeiro e segundo ano, encantei-me pelo socialismo, as teorias de esquerda, anarquismo, mas logo me desencantei.

A esquerda está morta, não acreditara quando me disseram. Hoje eu acredito.
Acreditava que meu voto era instrumento para mudar meu país, e tão cedo começada a vida política, tão cedo já começo a desacreditar.
Mas veja quantas coisas erradas, quanta injustiça, quanta miséria, quanta fome. Algo deve ser feito.

Mas o quê? Que ideais tenho que seguir? Que heróis? Onde eles estão?Por que aqueles heróis não saem da fantasia? Por que não podem resolver tudo aqui na realidade?

"... Abre-a com força, entra correndo e vê-se numa outra sala. Uma sala fechada, sem portas, sem janelas, sem luz. E ainda a voz, o pedido de socorro.
Na escuridão, tateia as paredes em busca de achar uma saída, em vão, clama pela amada e ela ainda grita, desesperadamente.Golpeia as paredes, o chão, desespera-se, mas é em vão, nada pode ser feito.
Onde está o dragão a ser derrotado? Onde está a princesa a ser salva? Ele ouvia ainda os gritos, mas estava incapaz de agir.

Passaram-se dias, meses, anos e a busca por uma saída tornava-se cada vez mais inútil.
Por fim, o cavaleiro, exausto, senta-se no chão. Os gritos estão ali, mas não o incomodam mais. Solta sua espada e permanece onde está. Envelhece ali, sentado, derrotado.
Até que um dia, já velho, definha e morre, ainda pode ouvir os gritos, porém não há nada a ser feito.

Foi vencido pelo pior inimigo que já enfrentara."
“E agora José?”