sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Nicholas era mais velho que o pecado e sua barba não podia ficar mais branca. Ele queria morrer.

Os anões nativos das cavernas do Ártico não falavam sua língua, mas chilreavam na deles e realizavam rituais incompreensíveis quando não estavam trabalhando nas fábricas.

Uma vez por ano, forçavam-no, aos prantos e sob protestos, pela Noite Sem Fim. Durante a jornada, permaneceria ao lado de cada criança do mundo, deixando um dos presentes invisíveis dos anões ao pé da cama.

As crianças dormiam, congeladas no tempo.

Ele invejava Prometeu e Loki, Sísifo e Judas. Seu castigo era mais sombrio.

Ho.
Ho.
Ho.

- Neil Gaiman

Gosto desse conto do Neil Gaiman, pois o acho iconoclasta.

Quer ouvir outro?

Era uma vez uma festa pagã que cultuava o Deus Sol, o cristianismo viu e disse:

--Nossa, que festa legal, podemos aproveitá-la. Põe o Menino Jesus ali no cantinho do Sol. Isso, agora põe ele ali junto com o Sol. Aí, não, calma, diminui um pouco o Sol. Isso, agora aumenta o Menino Jesus. Pronto, agora tira o Sol, deixa só ele.

Passa o tempo, vem o capitalismo e diz:

--Nossa, que festa legal, podemos aproveitá-la. Põe o Papai Noel ali no cantinho do Menino Jesus. Isso, agora põe ele ali junto com o Menino Jesus. Aí, não, calma, diminui um pouco o Menino Jesus. Isso, agora aumenta o Papai Noel. Pronto, agora tira o Menino Jesus, deixa só ele.

Todos comemoram e trocam presentes.

Tudo bem, eu sei que não foi muito criativo, nem muito engraçado e muito menos de bom gosto, mas é uma forma de ver as coisas.

Não pensem com isso, que eu criei este post para falar mal do Natal, dizer que eu odeio a data e que não passa de uma convenção capitalista onde as pessoas consomem de forma quase compulsória e tantas outras coisas comuns de se escutar. Pelo contrário, gosto do Natal.

É que dizem muito sobre o Natal, dizem que é data de reconciliação, de fraternidade, de solidariedade e desejar o bem ao próximo. Eu não me sinto mais caridoso no Natal, nem mais inclinado a perdoar ou ajudar. Nem tampouco me lembro mais de Cristo do que o de costume. Acho todos esses sentimentos muito bonitos, mas não são para serem lembrados uma vez por ano. Deviam fazer parte do nosso dia-a-dia, da nossa cultura e serem lembrados todos os dias, não só nessa data.

Gosto do Natal porque é uma ótima oportunidade para rever alguns parentes, para dar e receber presentes, para ouvir e desejar um Feliz Natal – é bom desejar coisas boas a quem merece e é bom receber tais votos – e porque as cidades ficam enfeitadas, é bonito de se ver. Só por isso.

Só criei mesmo esse post para desejar a todos um FELIZ NATAL sem demagogias.


E caso não voltar a escrever, um próspero Ano Novo também.