sábado, 6 de setembro de 2008

Passeio Noturno

Não, esse post não tem nada a ver com a obra de Rubem Alves, o nome é mera coincidência. Ontem a noite não estava muito boa, nada pra fazer. Voltando pra casa senti vontade de deixar o carro e andar a pé pela cidade. Não o fiz, preferi dormir.
Acho que essa vontade me veio por culpa de uma noite na cidade de Ribeirão Preto.

Voltava pra casa, o caminho era curto, mas faço um desvio. O porquê eu não sei, mas tive vontade. Talvez fosse por estar levemente embriagado, talvez fosse pelo fato do clima estar agradável -- gosto do calor dessa cidade-- ou talvez e muito provavelmente, sem motivo algum.
As ruas bem iluminadas -- não eram, mas época de eleição tudo muda – e o cheiro que só cidade canavieira tem, misturado ao agradável perfume de jasmins plantadas pela prefeitura. A típica fragrância ribeirão pretana, jasmim com vinhoto.
Lembro-me que não é algo muito inteligente o que fazia. O centro tem sido palco de alguns assaltos, mas as ruas estavam desertas e ainda não haviam me levado nada, concluo que estou com sorte e prossigo. Mais à frente dois rapazes morenos, não bem vestidos como eu seguem no sentido contrário, achei que minha sorte tinha acabado. Puro preconceito, passam reto.
As ruas do centro são belas, algumas delas pelo menos. Misturam passado e modernidade. O café se foi, mas deixou muita coisa. A Antártica, o Pingüim, o D. Pedro II, uma praça, e alguns prédios de arquitetura antiga, um datado de 1927.
O Dr. Lingüiça está fechado.

Ah, a praça, o teatro e o pingüim, patrimônios culturais dessa cidade que já posso chamar de minha. Sento-me em um banco qualquer, ali há mais movimento.Uma senhora me pergunta as horas. Respondo polidamente que não sei. Na verdade não queria saber, não queria me preocupar com o tempo, pois o celular estava no bolso, bastava olhar.
Olho o o Pinguim. Não estava tão cheio quanto de costume, já devia ser tarde, aposto que a cozinha já tinha fechado. Chama-me atenção uma cena.
Quatro senhores bebem chope, deviam estar na faixa dos 50 anos. Imagino que são amigos de infância e bebem junto há muito tempo. Vejo o copo de cada um ser elevado e ir à boca, a garganta deglute levemente. Incomoda-me a visão. Será que estarei lá daqui a 30 anos? O pingüim vai estar? Mais e eu? Talvez não, mudam-se as cidades, mudam-se os amigos. Há muito tempo não bebo chope com meus amigos de infância.
Os quatro riem, naturalmente alegres, sincronizadamente alegres, cuidadosamente alegres, dosadamente alegres, artificialmente alegres. E eu assisto. Até quando vão rir? Até quando aquelas paredes verão eles rindo? Outros rindo? E eu? Até quando vou estar nesse banco? Até quando verei os outros rirem?
Bebam chope meninos, bebam chope, há demasiada metafísica nisso.

Ah, o vento esconde o calor de Ribeirão. Fecho os olhos, sinto a brisa, sinto-me livre. Abro os olhos e vejo um casal. Parecem felizes. Volto a me sentir bem, poderia haver ali alguém pra compartilhar o momento. Não sei se o momento era bom, acho que era eu que estava muito poético, mas seria bom compartilhá-lo. O casal permanece em silêncio, aquele silêncio que agrada só às pessoas quais ele não mais pode constranger. Adoro minha liberdade, mas queria um silêncio assim.

Os senhores ainda bebem, o casal entrelaça as mãos e eu olho pra cima. Não posso ver as estrelas, as luzes fortes me impedem.

Ninguém se sentou ao meu lado, acho que a sensação daquela noite era só pra mim. Quando alguém se sentará? Estarei pronto pra aceitar, ou me levantarei?

Não sei. Me levanto, o banco fica vago. Um sorriso me vem ao rosto. Sou livre. Ainda encontrarei mais senhores, mas casais, beberei mais chopes, farei mais amigos, visitarei mais pingüins e me sentarei em mais bancos.Volto pra casa, a volta é menos poética, o sono me incomoda.
Amanhã é outro dia.
Será que o Dr. Lingüiça vai estar aberto? Quero um lanche.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Tia, tia, olha o que eu desenhei!

Obs: clica na imagem que ela amplia